29 janeiro 2010

Sobre: Carnaval de Pernambuco

Quem vai passar o carnaval em Recife, Olinda ou pelos interiores de Pernambuco, vale a pena conhecer um pouco da nossa cultura. Tem aqui um pouco sobre o Maracatu Nação, Maracatu Rural, Papaguns, Caiporas, Caretas e o Frevo.


PERNAMBUCO DAS NAÇÕES DE MARACATU

O Maracatu Nação, ou de Baque Virado, tem sua origem na Instituição dos Reis Negros, ou Reis do Congo, que acontecia em Pernambuco durante o período da escravidão e consistia na coroação de lideranças negras.

Os negros escravizados provinham de tribos africanas que, dominadas por tribos rivais, eram vendidas aos mercadores portugueses. Nesta transação, eram comercializados todos os integrantes da tribo subjugada, inclusive os seus governantes. Chegando ao Brasil, os escravos eram novamente vendidos e levados às fazendas de açúcar onde, mesmo confinados nas senzalas, seguiam os líderes das suas tribos, organizando-se em Nações. Percebendo isso, os senhores de engenho permitiram a realização da Instituição (coroação) dos Reis Negros, com o apoio da Igreja Católica, como forma de controlar mais facilmente o espírito revoltoso dos escravos. Cada Nação seguia politicamente a um Rei aqui instituído e, espiritualmente, a vários Babalorixás ou Ialorixás (Pais ou Mães-de-Santo). No Recife, as Nações Negras eram compostas por pessoas de várias procedências, principalmente de Angola, Congo e Moçambique.

As coroações ocorriam no dia de Nossa Senhora do Rosário, dentro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no bairro da Boa Vista. As cerimônias eram dirigidas pelo Pároco daquela Freguesia. Após a coroação, os negros saíam em cortejo pelas ruas da Cidade até a fazenda, tocando suas alfaias (tambores) e louvando os Orixás, de maneira disfarçada pelo sincretismo religioso, onde cada Orixá era associado a um Santo Católico, o que persiste ainda hoje. Na fazenda, a festa continuava, sob o olhar cuidadoso do capataz e seus assistentes. Sempre que os negros comemoravam datas especiais, como o dia de Nossa Senhora do Rosário e de Santo Antônio, os senhores de engenho utilizavam o termo "maracatu" para definir pejorativamente tal reunião.

Devido ao longo período longe da África e dos seus costumes, os negros adotaram a organização política e os vestuários da Corte Portuguesa nas suas Nações. Além do casal real, existem Príncipes, Embaixadores, Condes, soldados, pajens, vassalos, entre outros. Todos vestidos à Luís XV. Como em toda Corte Real há escravos, nas Cortes das Nações de Maracatu não poderia ser diferente. Eles são representados pelos batuqueiros da Nação.

Do Século XVI até o final do XIX, período da Instituição dos Reis Negros, todas as Nações cultuavam os Orixás-Reis do povo Nagô: Xangô, o deus guerreiro do trovão, e Iansã, a deusa guerreira do relâmpago. No sincretismo religioso, são representados por São Pedro e Santa Bárbara, respectivamente. Na segunda metade do Século XIX, os senhores de engenho destituíram do "poder" os Reis Negros e fracionaram as antigas Nações, temendo uma possível reunião entre elas, o que poderia acarretar rebeliões. A partir daí, os Babalorixás e Ialorixás assumiram o controle dos membros de suas respectivas Nações de Candomblé, fazendo com que outros Orixás passassem a ser cultuados pelos vários fragmentos das Nações Negras. Como havia mais Ialorixás em atividade, a maioria das Nações de Maracatu passou a ser comandada e guiada espiritualmente por mulheres, por isso, o Maracatu de Baque Virado é Matriarcal, ou seja, a Rainha é quem manda e o Rei é só figurativo. Nesta mesma época, as Nações de Maracatu começaram a desfilar no carnaval do Recife.

As coroações continuaram a ser realizadas, tal como antigamente, até o ano de 1980 quando aconteceu a cerimônia de Dª Elda Viana, Rainha da Nação do Maracatu Porto Rico. Esta foi a última coração segundo a tradição Nagô das antigas Nações Negras. No ano seguinte, o Vaticano proibiu tal cerimônia devido à ligação das Nações Negras com o Candomblé. Hoje, as coroações são realizadas no pátio da histórica igreja, que fica de portas fechadas. Ainda assim, continua sendo um belo espetáculo.

Pernambuco foi o berço e é o maior pólo brasileiro de Maracatus que, assim como o Frevo, é um folguedo genuinamente pernambucano. Atualmente existem Nações de Maracatu ou grupos fortemente influenciados por elas em vários Estados do Brasil e outros Países, como Portugal, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Bélgica, Inglaterra, Finlândia e Holanda.

As atuais Nações de Maracatu em Pernambuco ainda guardam muitas características da Instituição dos Reis Negros. Com o tempo, a tradição religiosa ganhou força, o termo "maracatu" passou a definir oficialmente a manifestação e esta evoluiu para folguedo popular, tornando-se um dos principais elementos na nossa cultura. Além das tradicionais Nações de Maracatu, como a Nação do Maracatu Porto Rico (fundada em 1916), a Nação do Maracatu Estrela Brilhante do Recife (fundada em 1906), a Nação do Maracatu Leão Coroado (fundada em 1880) e a Nação do Maracatu Elefante (a mais antiga, fundada em 1800), existem Nações fundadas recentemente, seguindo os mesmos preceitos e garantindo a continuidade da tradição.


MARACATU RURAL - A FESTA DOS CABOCLOS GUERREIROS
O Maracatu Rural, ou Maracatu de Baque Solto, nasceu da fusão de vários folguedos populares de origem afro-indígena que existiam nos engenhos de cana-de-açúcar da Zona da Mata Norte do nosso Estado, principalmente em Nazaré da Mata, que nessa época era um dos mais importantes centros culturais e econômicos de Pernambuco.

No Século passado, na década de 50, o Maestro Guerra-Peixe deu a esse folguedo, também exclusivamente pernambucano, a nomenclatura oficial de Maracatu de Baque Solto e, na ocasião, declarou esta ser uma das mais belas representações da cultura brasileira. Vivendo basicamente do corte da cana-de-açúcar ou de subempregos, os brincantes do Maracatu Rural dão um verdadeiro exemplo de resistência quando, apesar de todas as dificuldades e total desamparo, conseguem manter viva a tradição. Esses homens fortes, ajudados por suas famílias, confeccionam suas próprias fantasias, onde cada um deles se doa, de corpo e alma, a esse brinquedo. A recompensa é a alegria de ser um brincante e emocionar os foliões durante o carnaval.

A musicalidade do Maracatu de Baque Solto vem da sua orquestra, formada por instrumentos de percussão e um naipe de sopros, com destaque para o trombone. O ritmo é a marcha, executada em quatro, seis e dez linhas rítmicas e com uma melodia bem característica. A principal figura do grupo é o Mestre, que puxa as toadas, ao mesmo tempo em que a orquestra silencia.

Além do Mestre, merecem destaque o Mateus, o Bastião, a Catirina, os Caboclos de Pena e os Caboclos de Lança, símbolo maior do Maracatu Rural. Fazendo evoluções com saltos e malabarismos, o Caboclo de Lança abre espaço no meio da multidão. Sua fantasia é composta de cabeleira de fios de papel celofane, onde predominam as cores vermelha e amarela, lenço colorido cobrindo a testa, calça e camisa de chitão, meiões e tênis, além da sua lança ricamente adornada com fitas de tecido de várias cores. O ponto alto da sua vestimenta é a gola, ricamente bordada em vidrilhos e lantejoulas, verdadeira obra de arte, da qual muito se orgulham os Caboclos de Lança. A gola é usada sobre o surrão, um tipo de mochila muito pesada que carrega guizos e chocalhos, produzindo um som forte e primitivo, dando um toque todo especial a esse personagem. Completando o seu visual exótico, o Caboclo de Lança traz o rosto pintado de urucum, óculos escuros espelhados (para devolver maus olhados) e uma flor – um cravo – entre os dentes (para homenagear os companheiros que não estão mais nesse mundo).

O Maracatu Rural sobrevive à custa do esforço e dedicação de seus brincantes. Alguns se destacam pela luta incessante em prol de condições mais dignas para o brinquedo, como fez durante toda a sua vida o saudoso Mestre Salustiano, fundador do Maracatu Piaba de Ouro, de Olinda. E para homenagear o Mestre Salu, vai um trecho de uma de suas toadas:

“Salu na rabeca é bom
Igual doce de caju...
Não tenho inveja de tu.
Quem quiser luxar que luxe,
Eu sou o tampa de Crush
Cantando Maracatu!
Maracatu vai,
Maracatu vem.
Maracatu foi criado
Nas senzalas de engém.”


PAPAGUNS, CAIPORAS E CARETAS - A FOLIA NO INTERIOR
Começamos nossa viagem pelo interior de Pernambuco na cidade de Bezerros, terra do ilustre xilogravurista e cordelista J. Borges. A 107km do Recife, o acesso é pela BR 232. A cidade, também conhecida pelo clima agradável e culinária regional, é a Terra dos Papangus, brincadeira que surgiu no início do século XX, quando foliões casados fugiam de casa, escondidos pelas máscaras, para brincar o carnaval. Para manter as energias, os mascarados comiam o angu (comida típica nordestina, à base de milho) na casa de amigos e parentes. Com o passar do tempo, o grupo de papangus foi aumentando, mas o segredo da identificação do folião continua preservado até hoje. Pessoas de todas as idades divulgam e mantém a tradição, muitas confeccionam sua próprias máscaras e Bezerros tem um motivo próprio na temática de seu artesanato. O grande dia do carnaval de Bezerros é o domingo, quando acontece no centro da cidade o encontro de centenas de papangus, ao som de orquestras de frevo.

Seguindo novamente pela BR 232, a nossa próxima parada é a cidade de Pesqueira, distante 209km do Recife. Conhecida como a Terra dos Caiporas, título que conquistou em 1962, quando saiu o primeiro bloco carnavalesco dessas personagens pra lá de exóticas: homens, mulheres e crianças, vestindo terno e gravata, com um enorme saco de estopa na cabeça. Segundo a tradição popular, tochas sobrenaturais apareciam em cima das árvores, assustando e pregando peças nos caçadores e seus cães. Essas tochas eram colocadas pela Caipora, figura mitológica das matas. Para acalmar a assombração, a Caipora, e fazer boas caçadas, muitos deixavam fumo e cachaça nos troncos das árvores, alimentando a lenda. O que era motivo de medo passou, assim, a ser motivo de alegria e brincadeira.

O nosso giro pelo interior do Estado termina em Triunfo, a Terra dos Caretas, localizada no sertão pernambucano, a 402km de distância do Recife. A BR 232 e a BR 365 são as principais vias de acesso. Os Caretas são responsáveis pela originalidade do carnaval naquela cidade. Fantasiados e mascarados, de todas as idades, usam chicotes que fazem estalar no ar, num belo espetáculo de sons e cores. Anualmente é realizado concurso que elege o careta mais bem caracterizado. Com clima de serra e vegetação exuberante, a cidade de Triunfo é, em qualquer época do ano, uma excelente opção de descanso e contato com a natureza, em especial para os adeptos do ecoturismo e esportes radicais, como o rapel e tirolesa. Com uma boa estrutura de hotéis e pousadas para os turistas, a cidade foi por diversas vezes visitada pelo lendário e controverso Virgulino Ferreira e possui um dos poucos museus do cangaço, com fotografias, roupas e utensílios de Lampião e seu bando.

Frevo

Em Pernambuco, entre os anos de 1910 e 1911, ocorreu o aparecimento de um ritmo carnavalesco bastante animado e que é famoso até hoje: o frevo. A palavra frevo vem de ferver, uma vez que, o estilo de dança faz parecer que abaixo dos pés das pessoas exista uma superfície com água fervendo.



Este estilo pernambucano de carnaval é um tipo de marchinha bastante acelerada, que, ao contrário de outras músicas carnavalescas, não possui letra, sendo simplesmente tocada por uma banda que segue os blocos carnavalescos enquanto a multidão se diverte dançando.

Apesar de parecerem simples ao olhar, os passos do frevo são bem complicados, pois, esta dança inclui: gingados, malabarismos, rodopios, passinhos miúdos e muitos outros passos complicados.

Os dançarinos de frevo encantam com sua técnica e improvisação, sendo que esta última é bastante utilizada. Para complementar a beleza da dança, eles usam uma sombrinha ou guarda-chuva aberto enquanto dançam.

Como vimos, o frevo é tocado, contudo, em alguns casos, ele também pode ser cantado. Há ainda uma forma mais lenta de frevo, e esta, é chamada de frevo-canção.

Veja mais em Luz do guerreiro.
Para saber mais sobre maracatu e outros:
Frevo
Coco
Caboclinho
Maracatu Leao coroado
Maracatu Nação Porto rico
Maracatu Estrela brilhante
Maracatu Nação

Fundaj
Homem da meia noite
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